"Suprima o pedestal, de repente você estará ao nível das crianças. Você as verá não com olhos de pedagogos e chefes, mas com olhos de homens e crianças, e com este ato você reduzirá seguidamente a perigosa separação entre aluno e professor que existe na escola tradicional". Freinet
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ALFABETIZAÇÃO

Ajustar a fala à escrita, desafio de quem lê cordel
Blog - Projeto de cordelPor Sil Augusto 0

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Todos sabem que para as crianças se alfabetizarem plenamente, precisam ter um contato intenso com os textos. Mas que tipo de contato é esse? E que tipo de texto elas precisam?

O planejamento do trabalho de alfabetização pressupõe a escolha da qualidade e da quantidade de textos, mas também uma certa ordenação. É importante decidir por onde começar, o que ler primeiro, como ler, o que deve ser disponibilizado na sala etc. No caso desse projeto, consideramos alguns critérios de escolha dos autores e dos tipos de cordel que apresentaríamos às crianças. Escolhemos muitos clássicos, textos de diferentes tipos e funções. Os folhetos de cordel foram trazidos para a sala e passaram a "morar" ao lado da estante dos demais livros, num varal onde ficaram pendurados à altura das crianças. Alguns eram realmente curtos e de fácil memorização, mesmo porque, o modo com as rimas são construídas, ajuda o leitor a memorizá-las.

Apresentamos também textos bem pequenos e muito diferentes dos romances clássicos, obras de um autor de cordel contemporâneo, aliás, o mais velho cordelista vivo: J. Borges. O autor intitulou a coleção de “Cordel para Crianças”. Escolhemos essa coleção porque, segundo nossa avaliação, um forte potencial para ser assimilado como parte do repertório de memória do grupo. E por que achávamos que esse seria um bom repertório para o grupo? Não apenas porque os textos eram curtos, mas principalmente, porque eram muito divertidos e bem construídos.

A coleção do Borges logo virou uma febre. Assim, o primeiro movimento das crianças foi para formar a preferência literária. Nas rodas de leitura elas podiam indicar os cordéis que gostariam de ler. E de tanto que pediam para ler, e ler de novo e ler mais uma vez, acabaram por memorizar trechos dos favoritos, principalmente do início. O campeão de audiência da turma era A Cachorra Matraca e O Galo de Honório. As crianças morriam de rir ao ouvir as passagens que apresentavam palavras que para eles eram “palavrões”, termos que não se usa normalmente no cotidiano. Além do que, a história, na verdade, é um caso engraçado. Diogo, Noah e Ricardo passaram a ser assíduos freqüentadores das rodas de leitura e, em pouco tempo, a história foi memorizada. Théo e Maurício passaram a improvisar outras histórias partindo daquela estrutura rítmica e do mote principal, com eventos engraçados e constrangedores. Já Mariana, Bruna e Marina gostavam de repetir as histórias de princesas como a da linda Creusa, que presa na torre só aparece na janela uma vez por ano para mostrar toda sua beleza, ou ainda a Princesa da Pedra Fina, cujo encanto foi quebrado por um valente príncipe. Mas claro que se houvesse uma rodinha em que alguém prometesse cantarO Galo de Honório lá estavam elas.

Com a concorrência de tantos novos folhetos, as crianças começaram a apelar para os amigos que tinham autonomia para ler o texto para um pequeno grupo que se aboletava diante do cordão estendido no canto da sala, onde deixávamos pendurados os cordéis.

Isso criou uma condição ótima para todo o grupo que estava aprendendo a ler: todos gostavam muito de ouvir as leituras, tinham os textos em mãos e sabiam trechos de memória. Ficava, então, a tarefa de ajustar o falado ao escrito, orientando-se pelas estrofes, seguindo o modelo dos amigos e do próprio professor que lia para a sala. A curiosidade e o desejo da criança que quer ler, e as condições necessárias para o fazê-lo são os dois pontos que unem o círculo dos leitores recém alfabetizados. Assim, as crianças foram aos poucos regulando o ritmo da leitura a cada linha do poema, constatando algumas regularidades nos encontros daquilo que falamos àquilo que se escreve, constituindo uma experiência leitora das mais relevantes.

E você, leitor, já pensou em situações semelhantes para criar um ambiente propício à alfabetização? Pensou sobre as tantas possibilidades de leitura a partir de textos que se sabe de memória? Traga suas experiências para esse blog. Na próxima página, vou apresentar algumas outras situações que os professores podem fazer para ajudar a criança a ler por conta própria a partir dos textos que sabe de cor.


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