Freinet e a Pedagogia do Bom-senso ou Pedagogia do Sucesso
Célestin Freinet nasceu em outubro de 1896 na pequena vila de Gars, nos Alpes Franceses.
Passou sua infância e juventude no meio rural, em meio às paisagens, modo de produção artesanal, comportamentos e valores dos homens do campo do início do século. Suas próprias condições de vida vieram mais tarde a influenciar sua pedagogia.
Passou sua infância e juventude no meio rural, em meio às paisagens, modo de produção artesanal, comportamentos e valores dos homens do campo do início do século. Suas próprias condições de vida vieram mais tarde a influenciar sua pedagogia.
Os primeiros estudos feitos por Freinet foram numa escola comum, sem grandes recursos ou métodos pedagógicos.
Sempre aplicado como aluno, foi para uma cidade um pouco maior, Grasse, para complementar seus estudos e preparar-se para o concurso de ingresso na Escola Normal de Nice.
Sempre aplicado como aluno, foi para uma cidade um pouco maior, Grasse, para complementar seus estudos e preparar-se para o concurso de ingresso na Escola Normal de Nice.
Seu curso sofreu interrupção com o início da 1ª guerra mundial em 1914, na qual Freinet atuou e foi gravemente ferido.
A partir de 1920, Freinet começa sua carreira de professor numa escola de Saint Paul, aldeia ao sul da França.
Está
longe de ser um professor tradicional. Participa de estudos e
pesquisas, viaja, debate, escreve artigos, sempre em busca de práticas
pedagógicas alternativas.
Freinet,
observador sensível, percebeu logo que a escola de sua época - severa,
sombria e autoritária - era inadequada para os alunos e passou a
procurar meios de efetuar a sintonização entre a escola e suas vidas.
Possuidor
de uma profunda consciência social, abandonou os tradicionais manuais
escolares e criou com seus alunos um material de trabalho que respondia
às questões que lhes eram postas pela vida, passo a passo com a
constituição de conhecimentos sobre as diferentes áreas do saber.
Escreveu um texto intitulado "Abaixo os manuais escolares" que, à época,
revolucionou as idéias sobre os pesados compêndios escolares que
serviam de apoio à educação de crianças e adolescentes. Manuais daquele
tipo, enciclopédicos, não tinham nenhuma relação com a vida e lidavam
com os conteúdos de forma fragmentada. Freinet sugeria que professores e
alunos construíssem seus próprios textos e fichas de estudos.
Animado
pelos teóricos que já debatiam uma nova concepção de infância, de
escola e de educação e com as idéias da Escola Nova, Freinet construiu
com seus alunos não um currículo teórico, mas práticas pedagógicas
vivas.
Em 1927, as idéias e práticas de Freinet já haviam ultrapassado os limites de sua escola e de sua aldeia. Freinet
participa de um Congresso Internacional de Educação em Tours, publica o
primeiro número da Biblioteca de Trabalho, composto por brochuras
escritas por seus alunos, publica também o Fichário escolar cooperativo.
Em 1932 o movimento educacional iniciado por Freinet já havia
conquistado adeptos na Espanha e Bélgica.
Humanista
e ativista político, Freinet se envolveu em vários movimentos sociais
dos quais saiu hostilizado ou perseguido. Suas idéias passaram a
incomodar os conservadores franceses e Freinet é afastado da Escola de
Saint Paul. Após esta ruptura, cria uma escola privada e laica, a Escola
de Vence, construída a partir de 1934 com ajuda de doações, mas o
Ministério de Educação recusa-se a reconhecê-la oficialmente. Apesar
disto, Freinet trabalha arduamente criando o Conselho Cooperativo
(gestão participativa), os jornais murais, a imprensa escolar, as fichas
auto-corretivas, a correspondência escolar, os ateliers de arte, as
aulas-passeio e o Livro da Vida.
Durante
a segunda guerra mundial a escola é devastada, Freinet é preso e fica
seriamente doente, escrevendo quase toda a sua obra pedagógica no
período de convalescença.
A
partir dos anos 50, a Pedagogia Freinet, não obstante todos os
obstáculos criados pelo pensamento conservador, já se consolidara e ao
falecer, em 1966, Freinet já era reconhecido mundialmente como crítico
da escola tradicional e reformulador das teorias da Escola Nova.
Freinet
criou, na realidade, um movimento em prol da escola popular e isto o
distingue dos demais pensadores do movimento da Escola Nova na Europa.
Defendia a livre expressão como um princípio pedagógico. Esta deveria permitir a cada um expressar seus sentimentos, emoções, impressões, reflexões. Favorecia-se a escrita e o acolhimento do "outro", numa pedagogia solidária e cooperativa.
Defendia a livre expressão como um princípio pedagógico. Esta deveria permitir a cada um expressar seus sentimentos, emoções, impressões, reflexões. Favorecia-se a escrita e o acolhimento do "outro", numa pedagogia solidária e cooperativa.
A
idéia do trabalho ocupava lugar central na Pedagogia Freinet. Ele
critica o trabalho alienado e defende uma educação de caráter
politécnico que permitisse às crianças e adolescentes realizarem uma
reflexão crítica contra as formas de exploração do trabalho e contra o
trabalho fragmentado e alienador. Para Freinet, o trabalho é uma
necessidade para os homens, não se devendo fazer distinção entre
trabalho intelectual e manual.
A Pedagogia Freinet centrava-se, também, na valorização da vida comunitária, nos interesses dos alunos e na compreensão.
Elementos da pedagogia Freinet
Freinet criou as aulas-passeio,
saindo fora dos limites físicos da escola e onde colocando os alunos em
contato com a natureza, com o mundo social e cultural. Criou também o Livro da Vida,
onde as crianças registravam suas experiências. Os conteúdos e
conceitos das diferentes áreas do saber passaram a ser discutidos de
forma viva e integrada. Mais tarde, foram criadas a Imprensa Escolar, com os próprios alunos lidando com impressoras e tipos de impressão. Surgiu a correspondência inter-escolar, com os alunos escrevendo para outras crianças de diferentes escolas e regiões dos país. Fichas de estudo
passaram a ser organizadas em fichários por temas, fichas
auto-corretivas também foram criadas para permitir que os próprios
alunos se auto avaliassem.
Na
Pedagogia do Bom Senso de Freinet as crianças produziam num clima de
trabalho cooperativo, valorizando a vida comunitária, os interesses dos
alunos a compreensão e a autonomia.
Educação e trabalho
Para
Freinet o trabalho é uma necessidade para a criança. Assim sendo, as
crianças devem ser educadas pelo trabalho aproveitando-se a necessidade
de ação, criação e conquista que cada criança tem. O trabalho é visto
como um princípio que educa. Os alunos de Freinet participavam de
diferentes ações e construções coletivas em prol da melhoria do ambiente
escolar e comunitário. Além disso, eram envolvidos em atividades que
incluíam impressoras, tipos de impressão, teares, oficinas de arte e
artesanato e horta.
Avaliação
Adepto
da avaliação contínua, Freinet se reunia com os alunos semanalmente
para discutir, com eles, os conteúdos estudados, o que havia sido
compreendido e as dificuldades de aprendizado. Elaborou um sistema de
fichas auto-corretivas, através das quais os próprios alunos
acompanhavam o seu desenvolvimento, se auto-avaliando.
O planejamento
Não
sendo seguidor do espontaneísmo, Freinet planejava cuidadosamente suas
atividades pedagógicas, esmiuçando os objetivos a serem alcançados.
Saindo a passeio com os alunos, fixava os pontos essenciais que deveriam
ser observados - vegetais, minerais, animais e as transformações
sofridas pelo ambiente, sempre abrindo espaço para a elaboração de
textos sobre o que havia sido visto.
A imprensa escolar e a correspondência
Através
da imprensa escolar, os alunos elaboravam "jornais" cuja leitura era
compartilhada por amigos e familiares. Através da correspondência
inter-escolar, os alunos se correspondiam com outros alunos de escolas
distantes, enviando fotos, desenhos, cartas, jornais. Foi assim que as
crianças da montanha passaram a conhecer o mar, a pesca e os costumes de
comunidades que viviam em aldeias marítimas. E estes, ficavam sabendo
das colheitas, da vida dos pastores, dos tecelões, das histórias das
comunidades do interior.
Livre expressão e seus suportes
A
livre expressão é muito valorizada na Pedagogia Freinet. Nos ateliers
de arte os alunos tinham oportunidade de exercitar a criatividade
exprimindo seus sentimentos, emoções, impressões e reflexões. Os
suportes para a livre expressão eram variados: a palavra oral e escrita,
a música, a pintura, o teatro.
Freinet se utilizava de diferentes recursos: máquinas fotográficas, projetor de diapositivos, camêras, toca-discos.
Freinet se utilizava de diferentes recursos: máquinas fotográficas, projetor de diapositivos, camêras, toca-discos.
Conclusão
Quem
estuda a Pedagogia de Freinet e trabalha com ela diariamente percebe
que se trata muito mais do que de uma simples proposta pedagógica -
quase uma filosofia de vida. Nessa proposta, a criança é vista como um
ser autônomo e que tem a capacidade de escolher, sob orientação e de
acordo com seu próprio interesse, as atividades que serão desenvolvidas.
Ela é vista também como um ser racional capaz de, desde muito cedo,
opinar e fazer críticas sobre fatos ou assuntos que lhe são expostos.
Dessa forma, são dados a ela o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto, e tudo passa a ser mais significativo.
O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, assim como suas escolhas e recusas, mas sempre analisando-se os motivos desta ou daquela decisão.
Para Freinet, assim como o adulto, toda criança já possui dentro de si uma consciência moral: cabe ao educador ajudá-la a desenvolver e aprimorar essa moral primitiva.
Quem conhece na prática o trabalho da pedagogia de Freinet pode presenciar um dos direitos do ser humano: o de ser respeitado e valorizado, ou seja, o direito de desenvolver a capacidade criativa e imaginativa que cada pessoa tem dentro de si. Geralmente, as crianças que crescem sob essa pedagogia são mais criativas e ousadas do que aquelas que são educadas sem que seus direitos humanos sejam respeitados.
Dessa forma, são dados a ela o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto, e tudo passa a ser mais significativo.
O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, assim como suas escolhas e recusas, mas sempre analisando-se os motivos desta ou daquela decisão.
Para Freinet, assim como o adulto, toda criança já possui dentro de si uma consciência moral: cabe ao educador ajudá-la a desenvolver e aprimorar essa moral primitiva.
Quem conhece na prática o trabalho da pedagogia de Freinet pode presenciar um dos direitos do ser humano: o de ser respeitado e valorizado, ou seja, o direito de desenvolver a capacidade criativa e imaginativa que cada pessoa tem dentro de si. Geralmente, as crianças que crescem sob essa pedagogia são mais criativas e ousadas do que aquelas que são educadas sem que seus direitos humanos sejam respeitados.
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